Não importa a idade nem a experiência. Quando o assunto é a escrita de um romance, o primeiro e o último capítulo sempre são os maiores temores do escritor. Criar situações que façam com que o leitor queira continuar acompanhando seus personagens é uma tarefa árdua, que consome muito tempo e exige uma habilidade quase sobre humana.
E, acredite você ou não, a maioria dos autores fracassa miseravelmente nesta tarefa, fazendo com que seus livres se transformem em peças decorativas em estantes e acumuladores de megabytes em kindles.
O perfeccionismo é um dos grandes males, mas a falta de situações interessantes para o leitor sempre ocupa a primeira posição na lista de motivos para se abandonar um livro. Mas não tenha dúvida quanto a isso: o seu primeiro capítulo PRECISA ser FODA! Ele não pode ser apenas bom. Ele tem que explodir cabeças.
E isso não vale apenas para manter os leitores atentos, mas também para despertar o interesse de agentes literários e de editores. Isso porque, na maior parte das vezes, estes profissionais sequer passam da primeira página de uma obra, uma vez que recebem milhares de livros todos os meses.
Se as primeiras páginas do seu romance não atraírem o editor, se não capturarem a sua atenção instantaneamente e o fizer querer ler mais… Ele vai abandonar se manuscrito e passar para o próximo. Simples assim.
Então, de forma clara, se quer que o seu livro seja aceito por um agente e por um editor, o seu primeiro capítulo PRECISA ser bom. Muito bom.
Mas existe alguma forma de melhorar o primeiro capítulo? Deixa-lo mais atraente para os leitores e editores? É claro que existe! E, neste artigo, eu não vou te mostrar uma, mas seis seis coisas que você pode fazer para impactar a sua audiência logo no começo da história. Confira:
01 – O personagem precisa se movimentar
Um recurso barato utilizado por muitos autores para deixar a cena mais interessante é começar direto da ação, no meio da história, para depois voltar ao início e explicar o que estava acontecendo. Durante muito tempo, esse artifício funcionou bem.
Mas, ultimamente, devido a frequência na utilização e a inabilidade dos autores de justificarem o motivo da inversão da narrativa, esse modelo já tem dado nos nervos. Em boa parte porque começar do meio deixa o leitor confuso e totalmente desorientado, sem entender o que está acontecendo. Quem são aquelas pessoas? Onde elas estão. Por que estão fazendo isso.
Ao mesmo tempo, quando seu livro começa com uma longa descrição, torna-se entediante e desinteressante. Diálogos também não são uma boa escolha, porque ninguém saberá ao certo quem está falando.
Tente começar com o personagem fazendo alguma coisa. Algo como “João se jogou atrás do carro ao mesmo tempo em que apertava o gatilho”. É uma frase boba e clichê, mas ajuda a ilustrar o que estou dizendo. Começar o texto com uma ação é uma boa forma de prender o leitor.
Depois disso, você pode criar um ou dois parágrafos de contexto, mas sem abusar da descrições. Só então pule para os tiros e as explosões.
02 – Apresente o seu protagonista
É difícil de acreditar, mas esse é um erro que MUITOS autores cometem. Não colocam seu protagonista no primeiro capítulo, decidindo mostrar o vilão ou uma outra situação qualquer. Mas os leitores querem saber sobre QUEM é aquela história. Quem é o herói.
Se possível, você deve apresentar o seu protagonista na primeira frase do seu livro. E se você usar a dica anterior, terá a oportunidade de usar a ação que ele estiver desempenhando para dar uma boa dica para o leitor sobre como é a personalidade do herói.
Mas não basta simplesmente conhecer o protagonista. Para que o leitor decida acompanhar a sua história até o final, você precisa tornar o seu personagem único e apaixonante, para que que ele queira acompanhá-lo de perto nas próximas horas ou dias, até o fim da história.
Obviamente, isso não quer dizer que o seu herói precisa ser perfeito e incrivelmente bom. Mas ele precisa despertar o interesse e fazer com que o leitor simpatize com ele.
Há várias maneiras de fazer o leitor simpatizar com seus personagens. CLIQUE AQUI e confira algumas dicas fantásticas.
03 – Coloque as coisas em jogo
O seu leitor não pode ter dúvidas sobre o que está em jogo. Sobre o fato de que o seu protagonista pode perder absolutamente tudo o que ele tem, até mesmo a vida. Quando você faz isso logo no começo, chama a atenção do leitor para o fato de que as coisas estão sérias. Ele vai querer saber como elas terminam.
04 – Defina o ponto de vista
Poucos autores pensam nisso quando começam uma história. Qual é o ponto de vista que você vai mostrar? Está contando sob as perspectiva de quem? O narrador é um deus onisciente ou um espectador? É o próprio herói? É o vilão? É alguém neutro?
Há muitas opções, mas, tão importante quanto escolher o ponto de vista ideal é mante-lo inalterado até o fim da história. Grandes autores como George R.R. Martin conseguem mudar seus pontos de vista a medida em que escrevem, mas essa é uma tarefa árdua, que exige experiencia.
Então, se ainda não se sentir pronto para inovar, mantenha a mesma perspectiva até o final da história.
05 – Defina o gênero da obra
Por mais que a sua história se encaixe em vários gêneros, é importante para o leitor saber o que ele está prestes a ler. Ninguém quer passar horas lendo um livro de terror para descobrir, depois de 200 páginas, que, na verdade, é um romance água com açúcar.
Algumas pessoas só leem livros de um certo gênero e você não deve tentar engana-las, porque irá fracassar miseravelmente. Misture gêneros e invente coisas novas, mas mantenha uma base para usar de referência.
06 – Escala de valor
Outro conceito que vale a pena considerar na hora de escolher o seu gênero é a Escala de valor. São elementos que você utiliza para dar sugestões para o seu leitor sobre o que é a história.
Segundo a maioria dos teóricos, há seis escalas de valor para uma história, e cada uma delas se refere a um tipo de narrativa. Ainda assim, você pode misturar-las e criar suas próprias combinações.
- Vida vs. Morte: Ação, Aventura
- Vida vs. Destino Pior que Morte: Suspense, Terror, Mistério
- Amor vs. Ódio: História de Amor, Romance
- Realização x Fracasso: Superação, Esportes
- Maturidade vs. Ingenuidade: Amadurecimento, Crescimento
- Bem vs. Mal: Tentação, Moralidade
Quando for escrever o primeiro capítulo, apresente elementos que mostrem a situação atual do personagem ou do mundo, para que o contraste seja claro ao final da trama.
Por exemplo: em um romance, mostrar o personagem completamente desiludido ou indiferente ao amor, tornará o momento de paixão ainda mais marcante.
BÔNUS: 0s 6 elementos do storytelling
Há seis elementos que podem ajudar a sua história a se destacar das demais. Tudo depende da forma como você as utiliza, é claro. São eles:
- Exposição: mostre o herói e o mundo;
- Incidente Incitante: algo tira o herói da zona de conforto;
- Ação crescente – complicações progressivas: o que já era ruim fica pior;
- Dilema: o herói precisa tomar grandes decisões morais;
- Clímax: o herói enfrenta o vilão em uma luta de vida ou morte;
- Desfecho: o herói conquista ou perde o que desejava.
Quem já conhece a Jornada do Herói, estará familiarizado com a ideia dos elementos do storytelling. Embora devam ser usados ao longo de toda a história, você pode criar um microcosmos dentro do primeiro capítulo, fazendo o herói passar por todos os estágios apenas para se ver diante de um problema ainda maior.
Quando as coisas parecem ter se resolvido, um problema muito maior surge e, agora, os riscos são terrivelmente maiores.
Conclusão
Como eu já disse antes, o perfeccionismo pode destruir uma boa história. É claro que você deve buscar escrever mais e melhor a cada dia que passa, mas isso não deve limitar o seu trabalho. Principalmente quando ainda estiver escrevendo o primeiro rascunho. Deixe a sua mente aberta.
Não espere que o seu primeiro texto será digno de vencer o Prêmio Nobel de Literatura. Ele não será. Provavelmente, o seu centésimo texto ainda não será. Mas isso não quer dizer que você deve parar de escrever.
Faça o seu trabalho com garra e dedicação.
Leia este artigo quantas vezes for preciso. Imprima, se achar melhor. O importante é nunca parar de escrever. Só a prática pode nos aproximar da perfeição e você deve praticar todos os dias, sem excessões. Os seus leitores sempre saberão a diferença entre um texto lapidado e um rascunho inacabado.
Nos vemos na próxima! Boa escrita. 😀