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    Como misturar clichês com ideias originais

    As frases que o escritor mais ouve ao longo de sua vida são: fuja dos clichês. Pense diferente. Apresente uma ideia que ninguém nunca viu. Seja original.

    Isso é lindo até que observamos os principais bestsellers. Ou os maiores lançamentos do cinema. Em sua grande maioria, os maiores sucessos são sempre coisas com as quais já estamos bem habituados. Histórias que já conhecemos em contextos nos quais já estamos inseridos. Então, porque ser original?

    Quando Harry Potter se tornou o fenômeno que ele é, muitos escritores foram na onda. E muitos se deram bem, como Rick Riordan e sua série Percy Jackson e depois com a menos conhecida Magnus Chase. Mas o próprio Harry Potter não era uma ideia 100% original, já que bruxas e feitiços já faziam parte do nosso imaginário desde sempre.

    O mesmo se dá com O Senhor dos Anéis. A obra prima de Tolkien inspirou milhares de outros escritores desde seu lançamento, dentre eles, o mestre C.S. Lewis, com As Crônicas de Narnia, e o jovem Christopher Paolini com a saga de Eragon. Mas, novamente, até mesmo os livros de Tolkien estavam cheios de releituras de histórias antigas, contadas ao longo dos séculos na Inglaterra.

    Então, qual é o caminho certo? O clichê ou a novidade. Se você analisar os lançamentos e a onda de remakes em Hollywood, vai notar que as pessoas preferem aquilo que já conhecem. Poucas pessoas querem uma história onde o herói morre no final. Onde o mocinho não fica com a garota. Nosso cérebro gosta do que é mais confortável, do que demanda menos atenção. A franquia Star Wars e seus trilhões de filmes, livros, séries, jogos e sei lá mais o que é a prova viva disso. 

    A grande questão, então, não é apenas buscar uma ideia totalmente nova. Mas misturar coisas novas com coisas que as pessoas já conhecem. Pegue a Jornada do Herói, por exemplo. Por que você acha que ela é tão utilizada? Porque ela dá certo. Simples assim. As pessoas gostam desse formato e estão acostumados com ele desde que o mundo é mundo. Desde que as histórias começaram a ser contadas.

    A novidade vem quando você pega essa fórmula e a subverte, não quando você simplesmente a joga no lixo. Existe um oceano entre essas duas possibilidades. Harry Potter é genial porque soube misturar o clichê do jovem órfão deslocado com um mundo mágico onde ele já era um herói sem nem mesmo saber. E por tê-lo feito crescer junto com seus leitores, criando empatia. E também pela diversidade enorme de personagens.

    O Senhor dos Anéis é genial porque apresentou um mundo de fantasia totalmente crível e palpável, que foge do clichê ao colocar a criatura mais improvável como o herói. O clichê existe. O cavaleiro poderoso e valente está lá, na figura do Aragorn. Mas quem carrega o Um Anel é o Frodo, que é frágil e tem medo. O destino está nas mãos dele e Aragorn se torna apenas um mero coadjuvante na trama.

    Vamos exercitar nossa imaginação: quando a teoria dos buracos de minhoca surgiu, ela foi tida como algo extraordinário. Ainda é até hoje, é claro, mesmo que alguns cientistas afirmem categoricamente que ela é possível. Mas o fato é que, na ficção, buracos de minhoca são coisas extremamente clichês. É só olhar a quantidade de livros, filmes e jogos que já abordaram isso.

    Mas existem muitas formas de alterar isso. Imagine que, ao invés de simplesmente mandar as pessoas de um lugar para o outro, o buraco de minhoca mandasse uma cópia desta pessoa para um outro lugar e a original para outro. Isso cria uma situação nova e totalmente inexplorada. Principalmente se a cópia não souber que é uma cópia.

    Entendeu o meu ponto?

    Quando você se sentar para escrever, precisa ter em mente que fará escolhas. Precisa decidir o que será totalmente novo, criado por você, e o que será clichê. Os clichês são necessários, mas devem ser usados com sabedoria.

    Isaac Newton, aquele cientista que você odiava no colégio, mas que definiu os rumos da física moderna, disse certa vez: 

    Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes.

    Use os clichês desta maneira. Eles são os guias que te ajudam a enxergar mais além. Ideias que deram certo e que, provavelmente, continuarão dando certo para sempre.

    Mas não seja um idiota. Nunca escreva histórias 100% baseadas em clichês, porque elas também não darão certo. A sua função como escritor é criar um jeito de utilizá-los misturando com as suas ideias originais. É assim que as grandes histórias nascem.

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    Matheus Prado
    Matheus Pradohttps://conteudo.matheusprado.com.br/
    Matheus é jornalista, escritor e cineasta. Acredita que a vida é um oceano profundo e que devemos nos aventurar muito além da superfície.

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