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    Três maneiras infalíveis de criar uma “tensão romântica” entre os personagens das suas histórias

    Os maiores sucessos da literatura atual são romances. Falo do gênero literário e não de qualquer história longa de ficção, com mais de 40 mil palavras, já que isso também pode ser chamado de “romance”. Narrativas em que dois (ou mais) personagens se apaixonam e embarcam em um emaranhado complexo, permeado por encontros, desencontros, mal-entendidos, idas e vindas.

    Até mesmo em livros fora do gênero, o romance é altamente popular. Desde “50 Tons de Cinza” até “Harry Potter”, as tretas amorosas sempre estão presentes nas páginas dos livros mais vendidos, trazendo profundidade para as tramas e gerando identificação com o público. Afinal, quem nunca se apaixonou? Quem nunca sonhou com o primeiro beijo? Quem nunca sofreu por um amor não-correspondido? Ou com uma traição…

    E ainda que alguns afirmem que o romance pode estragar uma história, a verdade é que uma boa dose de amor, paixão e sexo (porque não?) pode elevar sua narrativa para outro nível. Desde que faça sentido, é claro. Desde que haja motivo e função dentro da narrativa, e não seja apenas um artifício barato para angariar leitores viúvos de outras histórias.

    É eficiente, mas não é fácil

    Não se iluda. Uma romance romântico não é uma coisa simples de se escrever. Os leitores querem muito mais do que amor platônico, que simplesmente brota do nada, à primeira vista. Isso é preguiçoso e irreal, ainda que alguns insistam que pode acontecer. Ainda mais agora, em tempos de aplicativos de namoro e relacionamentos líquidos, como dizia o Zigmunt Bauman.

    Tenha em mente que um romance é uma estrada cheia de buracos e curvas, a beira de um desfiladeiro mortal. Na maior parte do tempo, os personagens vão percorrer estes trechos em alta velocidade, conduzindo carros desgovernados e sem freios. E, infelizmente, alguns deles vão se perder e jamais chegarão ao destino esperado.

    E tudo bem. A vida também é assim.

    Mas, apesar das batalhas perdidas, alguns vão continuar lutando pelo amor, mesmo que o mundo esteja contra. E isso nós chamamos de tensão romântica. Se você conseguir criar tensão romântica entre os seus personagens de uma forma natural e interessante, a mente dos leitores fará o resto.

    A tensão romântica acontece quando os personagens querem ficar juntos de alguma forma, mas acontece algo que os impede. Pode ser um ou mais obstáculos e quantos mais fortes eles forem, melhor cumprirão seu papel, porque causarão frustração, raiva e medo.

    Em resumo, conflito. E se você tem um bom conflito, você já tem 30% do que precisa para criar uma uma boa história. Isso com base na minha crença (que pode estar errada, é claro) de que uma história é formada por:

    • Personagens – 50%
    • Conflito – 30%
    • Storytelling – 20%

    Todo o resto está inserido em uma destas categorias. É por isso que, no artigo de hoje, vou te apresentar três maneiras muito eficientes de criar tensão romântica em suas histórias e fazer seus leitores torcerem pelos seus personagens.

    Are You Ready?

    01 – O surgimento de um rival

    Não pense de maneira óbvia quando falamos de rival. É claro que, em histórias de amor, o primeiro rival que vem a mente é um outro amante, uma terceira pessoa que pode dividir a relação, gerar intrigas, roubar o afeto entre os pombinhos original. É por isso que grande parte das histórias românticas envolvem um triangulo amoroso.

    Mas é claro que essa não é a única forma de criar rivalidade nesse tipo de história. Qualquer outra pessoa (pai, mãe, irmão ciumento) ou coisa (maldição, jura de morte, pecado, medo, experiências passadas) também pode ser um rival e gerar uma boa trama.

    Vou apresentar alguns exemplos agora. Para ficar mais fácil, vou usar A e B para designar os amantes. Interprete essas letras como quiser, ok?

    • Pessoa A e pessoa B começam um relacionamento, mas o filho da pessoa A não se dá bem com a pessoa B.
    • Pessoa A gasta mais tempo com seus hobbies (esporte, carros, amigos) do que com a pessoa B;
    • A pessoa A tem uma grande ambição de vida, mas, no meio do caminho, se apaixonou pela pessoa B. Depois de um tempo, a pessoa B se sentiu abandonada, uma vez que a vida da pessoa A gira em torno de alcançar essas grandes ambições;
    • As pessoas A e B se amam, mas um bebê surge (também pode ser um problema financeiro, uma guerra, um desastre natural) e suga toda a energia de ambos, fazendo com que eles precisem lutar para encontrar tempo um para o outro;
    • As pessoas A e B eram felizes, mas a pessoa A passa por um grande problema e entra de cabeça nas bebidas (ou drogas). Com isso, o relacionamento fica afetado.

    Agora vale destacar que você ainda pode colocar um rival fisico, uma pessoa C, em cada um dos exemplos anteriores e gerar um problema ainda maior. O importante é ser criativo. Isso não quer dizer abandonar os clichês por completo. Quer dizer usá-los com sabedoria e no momento certo.

    02 – O surgimento de uma situação

    Esse exemplo pode se confundir com o anterior, mas, embora um rival possa ser uma situação, nem sempre a situação será o rival. A situação pode ser o elemento que vai unir os amantes e criar toda a base para que eles se apaixonem. Também pode ser o elemento que os mantem separados, ressaltando o quanto eles se amam.

    O fato é que a situação em que seus amantes se encontram desempenha um grande papel em seu romance. Vamos considerar uma situação clássica, já explorada em vários livros e filmes:

    Um homem é obrigado a ir para a guerra. Durante a batalha, acaba ferido e é mandado para o hospital. Chegando lá, é socorrido por uma enfermeira, por quem se apaixona perdidamente. Dessa forma, a mesma situação que arrisca sua vida a cada segundo o apresentou para um amor puro e verdadeiro.

    Esse é só um exemplo, mas existem milhares. Vamos conferir mais alguns:

    • As pessoas A e B estão em uma competição esportiva. Elas são grandes rivais, mas, entre uma prova e outra, acabam se apaixonando;
    • As pessoas A e B se apaixonam, mas se amor desagrada a sociedade (podem ser do mesmo sexo, de religiões diferentes, idades diferentes, etnias diferentes, etc.);
    • As pessoas A e B são amigos de infância e sempre gostaram da companhia um do outro. Certo dia, acabam se descobrindo apaixonados e isso os deixa confusos;
    • A pessoa A trabalha em uma profissão que compete diretamente com a profissão da pessoa B (policial e criminoso). Ainda assim, eles se apaixonam.

    Novamente, seja inventivo. Crie situações interessantes. Transformar o motivo do amor no motivo pelo qual os amantes não podem ficar juntos é uma forma muito eficaz de criar tramas e aumentar bruscamente o suspense. Sempre dá certo.

    03 – O surgimento de um mal-entendido

    Algumas pessoas acham essa técnica irreal, mas, se você já se envolveu amorosamente como alguém, sabe que ela acontece. E muito! O nome é autoexplicativo e esse é um artifício muito comum em comédias românticas que precisam encontrar uma forma de separar os personagens por algumas páginas.

    Vamos deixar as coisas claras:

    • Um rival é um fator externo sobre o qual os amantes tem algum controle;
    • Uma situação é um fator externo sobre o qual os amantes não tem controle;
    • Um mal-entendido é um fator interno, sobre o qual os amantes tem controle, mas, mesmo assim, eles não conseguem controlar.

    Quer entender melhor? Confira o exemplo:

    • A pessoa A diz uma coisa.
    • A pessoa B entende outra coisa.
    • A pessoa A não explica.
    • A pessoa B não faz perguntas.

    O fato é que não importa quem está certo e quem está errado. Nem mesmo se existe um certo ou errado. Um mal-entendido pode ser sobre qualquer coisa, em qualquer situação. A única coisa que você precisa é que uma pessoa diga (ou faça) uma coisa e que a outra pessoa ouça (ou entenda) outra coisa.

    Vamos deixar as coisas ainda mais claras. Um homem rico se apaixona por uma garota pobre. Os dois criam um laço muito forte, apesar de viverem em uma sociedade que condena esse tipo de relação. Em determinado momento, temendo que a garota estivesse em dúvidas quanto ao seu amor, o homem diz:

    “Eu te amo, minha querida, mesmo que você venha de uma família pobre”.

    Ofendida com a frase, a jovem responde:

    “Você está me insultando! A sua classe social não te torna melhor do que eu”.

    Conseguiu entender o exemplo. O homem quis dizer que não se importava com a classe social da jovem, para que ela não tivesse dúvidas. Ela, por outro lado, entendeu que ele considerava sua classe social superior a dela.

    Esse tipo de acontecimento pode gerar bons conflitos, mas precisam ser forjados com competência, ou soarão artificiais. É importante que as palavras (ou ações) realmente possuam um subtexto que possa gerar confusão, ou os leitores não engolirão a confusão.

    Conclusão

    Você já deve ter notado que, quanto maior a tensão romântica, mais a história se tornará emocionante para o leitor. E é claro que você quer que os leitores torçam pelos seus amantes, não é mesmo? Então não hesite quando precisar lançar obstáculos ao longo do caminho. Faça seus personagens lutarem pelo amor.

    E, como forma de exercício, sugiro que você escreva uma pequena cena, que contenha diálogos com um mal-entendido entre os amantes. Vale lembrar que o mal-entendido pode envolver um rival ou ocorrer no meio de uma situação. Depois disso, compartilhe o resultado nos comentários. Vou adorar ler alguns e dar minhas opiniões sinceras.

    Então é isso. Obrigado pela visita, volte sempre e boa escrita. 🙂

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    Matheus Prado
    Matheus Pradohttps://conteudo.matheusprado.com.br/
    Matheus é jornalista, escritor e cineasta. Acredita que a vida é um oceano profundo e que devemos nos aventurar muito além da superfície.

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