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    Cinco dicas fáceis – que você não pode ignorar – para tornar o seu texto mais simples e mais efetivo

    O texto precisa ser simples e claro o suficiente para passar um mensagem sem controvérsias, mas também precisa ser bem construído, carregado de beleza e estética, tanto visual quanto fonética.

    Segundo o dicionário, a palavra “rebuscado” significa: bastante aprimorado; esmerado, requintado. Isso poderia ter um teor positivo, se referindo a algo que foi tão bem preparado e produzido que exala classe e beleza. Porém, na maior parte das vezes, usamos este termo complexo quando precisamos dizer que um texto contém muitos termos complexos.

    Texto rebuscado, quase sempre, é sinônimo de texto chato, metido a besta.

    É claro que você pode tentar impressionar os seus leitores com construções frasais complexas, palavras impérvias e termos ínvios… Mas isso é bem difícil, como pode ter notado na frase anterior. O mais provável é que acabe irritando seus leitores, já que os obrigará a ler usando um dicionário. E eles certamente abandonarão a leitura para sempre.

    Claro que o oposto de um texto rebuscado não é um texto pobre. Mas sim um texto efetivo. O texto precisa ser simples e claro o suficiente para passar um mensagem sem controvérsias, mas também precisa ser bem construído, carregado de beleza e estética, tanto visual quanto fonética.

    Lembre-se disso: mesmo que uma imagem fale mais do que mil palavras, quando for descrever uma imagem, você não precisa usar essas mil palavras.

    Essa não é uma missão fácil, mas, neste artigo, vou te apresentar algumas dicas simples, mas que te ajudarão a escrever textos mais simples e eficientes.

    Vamos lá?

    01 – Escreva textos que as crianças podem entender

    Pode parecer tentador usar palavras difíceis para demonstrar todo o seu domínio da gramática. Mas, a grande verdade — que todos tentam disfarçar — é que o Brasil é um pais de analfabetos funcionais. A maior parte da população é incapaz de compreender textos simples de cartazes publicitários ou encartes de supermercados.

    Segundo o IBGE, apenas 8,31% dos brasileiros possuem superior completo. E eu posso garantir que muitos destes sequer sabem formar um frase. Sei porque me formei recentemente em Jornalismo, um curso onde a escrita deveria ser a base. Na prática, muitos dos meus colegas de classe eram incapazes de de ler duas linhas de texto sem gaguejar.

    Esse é um problema social profundo e, nem de longe, sou habilitado para sugerir uma solução. Mas posso dizer com todas as letras que, se quiser se lido, você também precisa pensar nessas pessoas. É claro que você precisa se focar em público especial, mas também precisa estar preparado para quem aparecer.

    É frustrante, mas é a nossa realidade. Arrisco a dizer que é a realidade da maior parte do mundo, na verdade.

    Ao mesmo tempo, como já disse outras vezes neste artigo, um texto simples de ser lido não é o mesmo que um texto pobre. A escritora J.K. Rowling, que ficou bilionária com Harry Potter, é um grande exemplo de alguém que sabe escrever de forma acessível, mas que, ainda assim, encanta os leitores.

    No Brasil, os exemplos também existem: Tony Bellotto, Rubem Fonseca, Luiz Alfredo Garcia-Roza, Raphael Montes, Patrícia Melo, Eduardo Spohr, Leonel Caldela. Estes são só alguns, mas existem muitos.

    Uma boa forma de tornar o seu texto mais claro é usar mais pontos do que vírgulas. Frases curtas facilitam as coisas. Acredite. Palavras curtas também ajudam neste aspecto, pelo mesmo motivo. Menos é mais.

    Gosto de uma frase que vi no site do Randy Ingermanson:

    Para ser profundo, tudo que você precisa é ter idéias profundas. Quase sempre, palavras curtas são melhores do que palavras longas. E frases curtas são melhores que frases longas. E parágrafos curtos são melhores do que os parágrafos longos.

    E também não se engane. Escrever de forma simples não é fácil. Exige muita habilidade e conhecimento do autor, para usar as palavras certas na hora certa. Tento fazer isso há anos e nem sempre consigo.

    02 – Remova o excesso de advérbios e adjetivos

    Se eu precisasse apostar, diria que abusar dos advérbios e dos adjetivos é o maior erro dos escritores novatos. Para ficar claro, vamos a uma aulinha bem básica de português:

    • Advérbios: são palavras que modificam um verbo, um adjetivo ou outro advérbio. São usados para atribuir modo, intensidade, lugar, tempo, negação, afirmação, dúvida — e outros — a um verbo.
    • Adjetivos: são palavras que atribuem características aos substantivos, indicando suas qualidades e estados. Variam em gênero, número e grau, sendo classificados como: simples, composto, primitivo e derivado.

    Acho que você sabe muito bem do que eu estou falando, porque já falei sobre isso outras vezes, aqui neste site e lá no YouTube.

    Considere a frase:

    João estava correndo muito rápido naquela noite.

    Talvez você não note nada estranho à primeira vista… Mas há alguns problemas cruciais. Isso porque, quando quando você diz que um personagem está “correndo”, já fica subentendido que ele está rápido. Não precisa dizer “correu rápido” ou “correu muito rápido”.

    Dessa forma, a frase “João estava correndo naquela noite” tem exatamente o mesmo significado.

    A maioria dos escritores assistem um filme na cabeça enquanto escrevem um texto. Por esse motivo, quando vão escrever, querem ser fieis ao que imaginaram e, para isso, usam muitos adjetivos. Termos como “muito rápido”, “lindamente”, “encantadora”, “temível”, “horroroso” — para citar alguns — se tornam bem comuns.

    No entanto, essa abordagem acaba aumentando as descrições, deixando o texto mais maçante e pouco ativo. Pior do que isso, também interrompe o ritmo da narrativa e rouba do leitor o efeito mais importante da literatura: a liberdade de imaginação.

    Se você conta demais, descreve demais, não deixa espaço para a imaginação. Confiei em mim: você não quer isso. O que você quer é que o seu leitor viaje na história, pense sobre o ocorrido e alimento os personagens na sua mente. Isso fará a sua história se tornar marcante. Nada mais.

    03 – Modere o uso de metáforas e símiles

    Metáforas e símiles são parecidas, mas tem um sentido um pouco diferente. Uma metáfora é a figura de linguagem utilizada para fazer uma comparação implícita.

    Ex: Os olhos dela pareciam duas jabuticabas.

    Já a símile diz que uma coisa é como outra.

    Ex: Os olhos dela eram duas jabuticabas.

    Essas duas ferramentas podem trazer mais cor para seus textos, criando imagens vívidas na imaginação do leitor. Porém, justamente por essa capacidade de transmitir ideias com facilidades, as metáforas acabam se tornando “carne de vaca” na mão de escritores que ainda estão tentando se encontrar.

    A regra geral é a mesma para qualquer outro recurso que você queira usar: quanto menos você usar, mais impacto eles terão quando aparecerem.

    Você também corre o risco de usar clichês achando que está sendo super original.

    Dizer que uma pessoa é um “diamante bruto” ou que os olhos de alguém “brilhavam como a lua” pode parecer interessante, mas essas comparações já foram usadas à exaustão. Não há nada de original nisso.

    04 – Consulte um dicionário de sinônimos

    A maior parte dos autores repete palavras e termos que gosta sem ao menos notar. Quando mandei o primeiro rascunho do livro O Assassino da Cruz para um amigo escritor, ele me disse que eu repetia muitas vezes a frase “ou algo do tipo”.

    Eu não havia notado isso, mas depois de uma rápida pesquisa usando o Control+F, notei que ele estava falando a verdade. A frase se repetia 113 vezes ao longo das 300 páginas do primeiro tratamento do manuscrito.

    A minha solução foi reescrever todas essas partes e, para isso, utilizei um dicionário de sinônimos. Nossa idioma é muito rico e possuí milhares de palavras para descrever a mesma coisa. Gosto muito de usar o “Dicionário Criativo”, porque ele também tem alguns recursos extras, como rimas, expressões e citações.

    O importante é se lembrar da primeira dica e ficar sempre atento para não usar termos rebuscados.

    Embora seja uma prática comum — e recomendada — evitar o uso da mesma palavra em frases muito próximas, optar por uma palavra diferente a cada vez também não é a melhor solução. No pior dos casos, corte a frase para ver se o parágrafo continua fazendo sentido. Tentativa e erro.

    Você precisa de um vocabulário amplo. Nunca neguei isso. Mas não deve usar essa variedade de palavras apenas para fazer firula e mostrar como é inteligente. O conteúdo é sempre mais importante do que a forma.

    05 – Escrever é cortar palavras

    A frase que mais ouvi quando estava começando a escrever foi: “escrever é o ato de cortar palavras”. No inicio, confesso que não entendi bem a frase. Mas, quando ela fez sentido, minha mente se abriu de um jeito mágico. Tudo ficou claro.

    Eu fiz um vídeo inteiro sobre isso em meu canal no YouTube, então vou deixá-lo aqui para você entender melhor.

    Conclusão

    É importante que, a maior parte destas dicas serve apenas par ao momento da revisão do seu texto. Se você começou a escrever e ainda está no primeiro rascunho, é importante deixar a mente livre, aberta a tudo. Nessa hora, você precisa escrever sem parar e sem pensar em regras.

    Na segunda fase, quando o texto já estiver pronto, você começa o processo de edição. É aí que você vai eliminar os advérbios e adjetivos que estiverem sobrando, alterar as metáforas clichês e simplificar as frases muito rebuscadas.

    Com o tempo, você vai aprender a escrever pensando no produto final e seus textos ficarão mais claros e concisos logo no primeiro rascunho. Mas, mesmo assim, nenhum trabalho é perfeito logo no início. E não há mal nenhum em corrigir, reescrever e reescrever ainda mais. Esse é o caminho natural das coisas.

    Então é isso aí. Obrigado pela visita e boa escrita. 😀

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    Matheus Prado
    Matheus Pradohttps://conteudo.matheusprado.com.br/
    Matheus é jornalista, escritor e cineasta. Acredita que a vida é um oceano profundo e que devemos nos aventurar muito além da superfície.

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