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    O que é ser um escritor, segundo Charles Bukowski

    Eu sempre dou dicas de escrita aqui no site e lá no meu canal do YouTube. Mas, em algum momento, você pode se perguntar: quem é esse idiota para querer me ensinar alguma coisa? Pois é. Eu também me pergunto isso o tempo inteiro. E foi por isso que decidi iniciar este quadro, que vou chamar de: o que é ser um escritor

    Basicamente, o qual vai apresentar a ideia de grandes escritores sobre o é que ser um escritor. E neste episódio de estreia, decidi fazer de um jeito especial, através de poemas de um dos maiores escritores de todos os tempos: Charles Bukowski.

    Serão dois poemas escritos pelo autor em um livro chamado “O amor é um cão dos diabos”.

    O primeiro se chama Como ser um grande escritor. Confira uma versão em audio com legendas antes do texto.

    você tem que trepar com um grande número de mulheres
    belas mulheres
    e escrever uns poucos e decentes poemas de amor.

    não se preocupe com a idade
    e/ou com os talentos frescos e recém-chegados;

    apenas beba mais cerveja
    mais e mais cerveja

    e vá às corridas pelo menos uma vez por
    semana

    e vença
    se possível.

    aprender a vencer é difícil –
    qualquer frouxo pode ser um bom perdedor.

    e não se esqueça do Brahms
    e do Bach e também da sua
    cerveja.

    não exagere no exercício.

    durma até o meio-dia.

    evite cartões de crédito
    ou pagar qualquer conta
    no prazo.

    lembre-se que nenhum rabo no mundo
    vale mais do que 50 pratas
    (em 1977).

    e se você tem a capacidade de amar
    ame primeiro a si mesmo
    mas esteja sempre alerta para a possibilidade de uma derrota total
    mesmo que a razão para esta derrota
    pareça certa ou errada

    um gosto precoce da morte não é necessariamente uma cosa má.

    fique longe de igrejas e bares e museus,
    e como a aranha seja
    paciente
    o tempo é a cruz de todos
    mais o
    exílio
    a derrota
    a traição

    todo este esgoto.

    fique com a cerveja.

    a cerveja é o sangue contínuo.

    uma amante contínua.

    arranje uma grande máquina de escrever
    e assim como os passos que sobem e descem
    do lado de fora de sua janela

    bata na máquina
    bata forte

    faça disso um combate de pesos pesados

    faça como o touro no momento do primeiro ataque

    e lembre dos velhos cães
    que brigavam tão bem?
    Hemingway, Céline, Dostoiévski, Hamsun.

    se você pensa que eles não ficaram loucos
    em quartos apertados
    assim como este em que agora você está

    sem mulheres
    sem comida
    sem esperança

    então você não está pronto.

    beba mais cerveja.
    há tempo.
    e se não há
    está tudo certo
    também.

    O segundo exemplo é um pouco menos agressivo, mas também vai te fazer pensar sobre a profissão, uma vez que o autor não tem papas na língua. O poema se chama Então queres ser um escritor? Confira uma versão em audio com legendas antes do texto.

    se não sai de ti a explodir
    apesar de tudo,
    não o faças.
    a menos que saia sem perguntar do teu
    coração, da tua cabeça, da tua boca
    das tuas entranhas,
    não o faças.
    se tens que estar horas sentado
    a olhar para um display de computador
    ou curvado sobre a tua
    máquina de escrever
    procurando as palavras,
    não o faças.
    se o fazes por dinheiro ou
    fama,
    não o faças.
    se o fazes para teres
    mulheres na tua cama,
    não o faças.
    se tens que te sentar e
    reescrever uma e outra vez,
    não o faças.
    se dá trabalho só pensar em fazê-lo,
    não o faças.
    se tentas escrever como outros escreveram,
    não o faças.

    se tens que esperar para que saia de ti
    a gritar,
    então espera pacientemente.
    se nunca sair de ti a gritar,
    faz outra coisa.

    se tens que o ler primeiro à tua mulher
    ou namorada ou namorado
    ou pais ou a quem quer que seja,
    não estás preparado.

    não sejas como muitos escritores,
    não sejas como milhares de
    pessoas que se consideram escritores,
    não sejas chato nem aborrecido e
    pedante, não te consumas com auto-devoção.
    as bibliotecas de todo o mundo têm
    bocejado até
    adormecer
    com os da tua espécie.
    não sejas mais um.
    não o faças.
    a menos que saia da
    tua alma como um míssil,
    a menos que o estar parado
    te leve à loucura ou
    ao suicídio ou homicídio,
    não o faças.
    a menos que o sol dentro de ti
    te queime as tripas,
    não o faças.

    quando chegar mesmo a altura,
    e se foste escolhido,
    vai acontecer
    por si só e continuará a acontecer
    até que tu morras ou morra em ti.

    não há outra alternativa.
    e nunca houve.

    Espero que você tenha gostado desta ideia. Comenta ai o que achou das dicas do Velho Safado.

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    Matheus Prado
    Matheus Pradohttps://conteudo.matheusprado.com.br/
    Matheus é jornalista, escritor e cineasta. Acredita que a vida é um oceano profundo e que devemos nos aventurar muito além da superfície.

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