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    Avisos de gatilho podem estragar sua experiência com o entretenimento?

    Esse é um daqueles posts cujo conteúdo tem alto risco de ser mal interpretado, seja intencionalmente ou não. Ainda assim, decidi publicar, porque é um assunto importante e merece um debate sério, que ainda não encontrei. Até porque, recentemente, tenho visto cada vez mais livros e séries com mensagens e avisos de gatilhos. Nunca vi isso no cinema, mas pode ser que se torne uma tendência no futuro.

    Basicamente, um aviso de gatilho (ou Trigger Warning) é uma mensagem apresentada antes de algum conteúdo que esclarece sobre quais temas sensíveis estão presentes na obra, desde violência extrema até coisas (ainda) mais sérias e específicas. O objetivo é tentar impedir que alguém que tenha vivido alguma situação parecida consuma aquele conteúdo e, sem querer, acabe revivendo alguma situação desconfortável. Esse termo era usado nos estudos de Transtorno de Estresse Pós Traumático, mas hoje é usado para vários outros tipos de transtornos e condições psicológicas.

    Mas agora vamos a pergunta que não quer calar: os avisos de gatilho são úteis. Mais do que isso: eles realmente funcionam?

    Minha resposta é: sim e não.

    É claro que essa é uma resposta inútil, de alguém que não é especialista em nada. Mesmo assim, vou tentar explicar meu ponto, antes que você comece a me xingar nos comentários.

    Particularmente, não gosto de avisos de gatilhos e nunca usei esse recurso em nenhum dos meus livros. Também não pretendo usá-los num futuro recente. Mas entendo o motivo de seu surgimento.

    O problema dos avisos de gatilhos nem está na sua utilização propriamente dita, mas no caminho que eles tomaram. Como tudo no mundo, nos últimos anos, estes avisos tornaram-se políticos. Se você defende uma bandeira, precisa aderir. Se defende outras, precisa abominar. E eu, otário que sou, ficou no meio, com uma opinião específica que pode mudar daqui algum tempo.

    Acho que eles podem ser úteis de verdade. Podem ajudar as pessoas a evitar experiências desagradáveis. Ao mesmo tempo, sinto que eles mantém os adultos numa infância eterna. Afinal, o mundo é uma merda e você precisa aprender a aceitar isso. As piores tragédias que você vai encarar (e você vai ter que encarar alguma tragédia, querendo o não) não terão avisos de gatilho. Elas simplesmente vão arrebentar a sua porta, bater na sua cara e te deixar no chão. Se você não estiver preparado, vai ser muito pior.

    Eu não queria que as coisas fossem assim, mas elas são. Seria ótimo se o mundo fosse perfeito, mas ele não é. Ele é terrível, cheio de gente mesquinha e doente, capaz de coisas que a ficção sequer sonha. Um livro ou um filme violento não vai te salvar disso, é claro, mas pode te ajudar a entender que não vivemos num conto de fadas, onde há avisos antes de cada buraco.

    É claro que ainda precisamos de estudos sérios sobre o tema. Alguns já estão sendo realizados em universidades prestigiadas, principalmente nos EUA, mas ainda é só o começo.

    Agora vou deixar uma provocação: os livros e os filmes da trilogia “O Senhor dos Anéis” têm cenas que mostram assassinatos, transtornos compulsivos, doenças e transtornos mentais, suicídio, violência doméstica e misoginia. Se contarmos outros livros e histórias do Tolkien, veremos coisas ainda piores. Pensando nisso, você acha que eles precisam de um avisos de gatilhos? Deixe sua opinião nos comentários.


    PS: esse é um artigo de opinião e não tem nenhuma pretenção de soar científico. Traz apenas questionamentos e pensamentos. E é claro que estou me referindo apenas a conteúdos de FICÇÃO! Outros conteúdos, como documentários, livros-reportagens e produtos semelhantes carecem de outro tipo de debate. Sabendo de tudo isso, se você não é capaz de manter uma discussão saudável e tentar ofender por ofender, nem se dê ao trabalho de comentar. Eu vou apagar suas ofensas. Isso não é uma democracia.

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    Matheus Prado
    Matheus Pradohttps://conteudo.matheusprado.com.br/
    Matheus é jornalista, escritor e cineasta. Acredita que a vida é um oceano profundo e que devemos nos aventurar muito além da superfície.

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