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    ARCOS DE PERSONAGEM: conheça três maneiras infalíveis de criar personagens memoráveis

    Como ocorre em várias outras áreas ligadas à criatividade, existem muitas lendas sobre a escrita criativa. E quando falamos em livros de ficção, a criação de histórias e personagens muitas vezes é tratada como algo místico ou uma habilidade inata, que ninguém é capaz e desenvolver.

    Mas eu devo te alertar que isso é uma grande bobagem, usada por gurus interessados em vender cursos, técnicas e soluções milagrosas. A regra básica é simples: escrever bem é resultado de muita leitura, muito estudo e muita prática.

    Também de uma forma básica, podemos dizer que os personagens que cativam os leitores são, em sua maioria, aqueles bem desenvolvidos, com arcos de histórias completas e críveis. Personagens cujas ações nos despertam uma série de reações químicas sem as quais o corpo humano não vive: ocitocina, serotonina e endorfina.

    Vamos falar sobre isso em outro artigo, mas entenda que despertar sentimentos como medo, felicidade, raiva, confiança, generosidade, relaxamento, foco, entre outros, é a principal maneira de prender o leitor.

    E uma ótima maneira de fazer isso é utilizar arcos de personagens.

    Muitos autores sequer sabem o que são arcos de personagens e como eles podem ser utilizados para deixar uma história mais interessante. O objetivo deste artigo é solucionar este problema de uma vez por todas e ainda te apresentar um mundo novo de possibilidades sobre a criação de personagens impactantes.

    O que é um arco de personagem?

    O arco do personagem é o conjunto de ações pelas quais ele passa ao longo da história para se transformar em algo diferente. Em “O Hobbit” (1937), temos um Bilbo Bolseiro, um camponês que reluta em deixar sua casa para se embrenhar no mundo sombrio, em busca de aventuras. Ao fim do livro (spoiler), temos um personagem completamente diferente, que aprendeu muito e se tornou o herói que sequer sabia que era.

    Um arco dos personagem, em sua estrutura mais básica, é composto por três etapas bem simples de serem aprendidas. Confira abaixo:

    1. O personagem começa de uma maneira;
    2. O personagem aprende algumas lições ao longo da história;
    3. O personagem completamente diferente (para o bem ou para o mal).

    Conhecendo os três arcos básicos de personagem

    Não posso dizer com exatidão quantos tipos de arcos de personagem existem. Novos são criados todos os dias. Mas posso afirmar que todos eles vem de três fórmulas básicas, que vou te apresentar agora.

    O Arco da Mudança Positiva

    O arco da Mudança Positiva é o mais comum de todos e você vai encontrá-lo na maior parte dos livros, filmes, séries e até músicas que conhece. Sua estrutura apresenta literalmente uma mudança na forma como o personagem pensa ou age ao longo da história.

    Geralmente, o personagem começa com algum nível de insatisfação pessoal ou negação sobre a sua verdadeira capacidade. Ao longo da história, depois de ser chamado para a aventura, ele será forçado a desafiar suas crenças mais íntimas e a enfrentar seus demônios internos. Em alguns casos, ele fará isso enfrentando demônios externos. Rsrsrs.

    Ao fim da história (ou apenas do arco), o personagem será uma pessoa completamente diferente. Talvez, até mesmo fisicamente.

    Muitas pessoas acompanham as histórias unicamente para ver essas transformações. Para saber como pessoas comuns se transformaram em heróis e como grandes ícones sucumbiram ao mal. Por isso, surpreenda. Seja criativo. Com raríssimas exceções, personagens estáticos e imutáveis são um desperdício de tempo do leitor.

    O Arco da Mudança Negativa

    Este arco é essencialmente igual ao anterior, mas com um detalhe que faz toda a diferença. O personagem não supera suas falhas e se torna alguém melhor. Ele é consumido por elas e se torna ainda pior do que era no começo da trama.

    Os exemplos para esse formato são muitos. Em “Star Wars Episódio III – A Vingança dos Sith” (2005), acompanhamos o arco de Anakin Skywalker, que culmina na sua assombrosa transformação no maligno Darth Vader.

    Ao longo da série “Breaking Bad” (2008 – 2013), vemos o professor de química Walter White se transformar no perigoso traficante Heisenberg, ao mesmo tempo em que é consumido pelo seu ego e pelo desejo de provar o seu valor.

    O arco negativo oferecem mais variações do que qualquer um dos outros arcos e é o favorito de muitos autores, como George R. R. Martin e Stephen King. Mas, quando usado de maneira incorreta, pode soar muito inverossímil. Se não acredita, olhe para o grande número de vilões medíocres nos filmes e livros atuais.

    O Arco Plano

    Por fim, temos o Arco Plano, que representa uma quebra em relação aos dois primeiros. Isso porque ele é utilizado em personagens que, basicamente, não mudam durante o desenrolar da trama. Este arco pode vir em histórias que apresentam um herói já consolidado e seguro de si.

    Porém, na maior parte das vezes, o arco plano é usado em personagens secundários ou, em menor número, em antagonistas. Raramente será utilizado em protagonistas, pelos motivos que já apresentei no arco da Mudança Positiva.

    Geralmente, encontramos o arco pleno em histórias de personagens que são os catalisadores das mudanças de personagens que estão nos arcos positivos ou negativos. O Imperador Sheev Palpatine, da saga Star Wars, é um exemplo. Ele é mau e só. Não muda. Não evoluiu.

    Gus Fring também tem um arco plano em “Breaking Bad”. Quando é apresentado, ele se mostra um grande distribuidor de drogas, de aparência amável, mas de opinião forte, capaz de cometer os piores crimes para manter seu império. Quando seu arco termina, ele ainda é o mesmo personagem.

    Mas como eu uso isso tudo?

    Agora você deve estar se perguntando:

    1. Como eu posso criar arcos dos meus personagens?
    2. Como eu formo uma base para aplicar esses três arcos?
    3. Como os momentos importantes da minha história afetam e são afetados pelos momentos importantes dos arcos dos meus personagem?

    Não fique nervoso. Na próxima semana e vou publicar um artigo incrível, explicando cada um dos arcos de forma detalhada, para que você nunca mais se perca em personagens rasos e irrelevantes.

    Aguarde até a próxima segunda-feira (1 de junho) para descobrir! Até breve.

    Aprenda a usar “ganchos de abertura” e saiba como fisgar os leitores para dentro da sua história

    Nós podemos (e devemos) ter vários ganchos dentro das nossas histórias. Eles servem para fisgar o leitor e fazer com que ele queira acompanhar os acontecimentos até a conclusão. Devemos entender que os leitores são como peixes muito espertos, que precisam ser capturados. Eles não caem em qualquer armadilha e não se deixam enganar por iscas falsas. É por isso que nenhum leitor vai se entregar de corpo e alma para a sua história a não ser que você tenha apresentado para ele um gancho irresistível.

    Hoje, vamos falar do gancho mais importante para um livro, independente do gênero da trama. O gancho de abertura. Esse tipo de gancho é aquele contido logo no início do seu livro e que é responsável por fazer o leitor continuar lendo. Para que ele funcione corretamente, é importante que esteja no primeiro parágrafo da história ou, ao menos, na primeira página.

    De uma forma bem resumida e simplória, podemos dizer que um gancho de abertura é uma informação importante e interessante que cria (consciente ou inconscientemente) uma pergunta na cabeça do leitor. De forma também resumida e simplória, esta pergunta será algo parecido com “o que vai acontecer?”, “como isso vai terminar?” ou qualquer equivalente.

    Você precisa fisgar o seu leitor, para que ele não seja capaz parar de ler a sua história até que ela tenha sido terminada. E não se engane com isso, porque se você não for capaz de conectar os seus leitores com a sua história logo no primeiro capítulo, como bons peixes que são, eles nadarão para o fundo do oceano e você não será capaz de encontrá-los novamente.

    Se acompanha as publicações deste site e os vídeos do meu canal no YouTube, você deve saber que uma boa introdução de história deve apresentar três elementos: personagem, cenário e conflito. O quanto antes isso ficar claro para o leitor, melhor será. Mas estes três elementos, por si só, não representam o gancho. O gancho só vem quando o leitor se entrega e pergunta “o que vai acontecer?”. É a forma como você trabalha estes elementos e a ordem em que decide apresentar as informações que fará toda a diferença para atrair o leitor.

    Vou apresentar um exemplo para deixar as coisas mais fáceis. Eu gosto muito de citar o livro A Metamorfose, de Franz Kafka, porque ele tem um dos melhores inícios de todos os tempos. Olha só:

    Certa manhã, ao despertar de sonhos intranquilos, Gregor Samsa encontrou-se em sua cama, metamorfoseado num inseto monstruoso.

    Impossível ler essa única linha e não querer saber o que vai acontecer, você não concorda? Isso porque Kafka escolheu cortar todas as apresentações e começar diretamente com o clímax da história. Não há apresentações. Não há rodeios. Gregor Samsa acorda e é um inseto gigante. Simples assim. Porque? Não sei. Como isso aconteceu? Não sei. O que vai acontecer a partir daí? Não sei. Só lendo para saber.

    Kafka nos apresenta o personagem (Gregor Samsa), o cenário (a cama e o quarto, por tabela) e o conflito (a metamorfose em um inseto monstruoso). Tudo isso em uma única linha. E, ao mesmo tempo, ainda nos deixa com a pulga atrás da orelha.

    Claro que precisamos destacar que isso funcionou para este livro, mas não quer dizer que funcionará para todos. Começar a história com o personagem acordando depois de um pesadelo se tornou um dos maiores clichês da literatura e do cinema, possivelmente por causa trecho, e isto é algo que eu tenho certeza que você não vai querer para a sua história. Ao mesmo tempo, ótimos livros conseguiram prender seus leitores sem apresentar todas as informações logo na primeira frase. Há outras construções, estruturas e formatos bem úteis neste aspecto.

    Nos próximos parágrafos, vou te apresentar três tipos de ganchos e dicas de como você pode usar essas idéias para fisgar os leitores em suas histórias. É claro que estas não são as únicas maneiras, mas podem ser um norte caso você esteja perdido ou empacada, sem saber como iniciar a sua trama.

    1. O gancho do “por que”

    Certamente, este é o mais básicos dos ganchos de abertura. Ao mesmo tempo, é o mais importante de todos, sem sombra de dúvidas. É aquele que desperta uma sensação imediata no leitor, fazendo com que ele se envolva na trama e pergunte: porque diabos isso está acontecendo?

    Os livros mais famosos do Kafka seguem esse modelo. Em A Metamorfose, temos um caixeiro-viajante que se transforma em um inseto. Em O Processo, temos um bancário que acaba sendo preso e sujeito a um longo e incompreensível processo por um crime que ele mesmo não sabe qual é.

    Eu desafio você a tentar ler a primeira página de qualquer um destes livros e não querer saber como a história vai terminar.

    Vale destacar que todos os ganchos precisam despertar um “por que”, então este tipo condensa todos os outros. Mas vamos tratar os próximos não como subgêneros deste primeiro, mas como construções próximos. O importante é lembrar que não existem regras. Você é livre para fazer absolutamente o que quiser com a sua história.

    2. O gancho da “Catástrofe”

    Muitas histórias usam esse artifício para prender a atenção do leitor, ainda que da maneira errada. Catástrofes, de uma forma geral, despertam a curiosidade dos seres humanos desde sempre. Tanto que se transformaram em um gênero cinematográfico extremamente lucrativo. Isso talvez se explique pelo fato de que o homem enfrenta a natureza desde os primórdios da civilização. Mas não sabemos ao certo o motivo. O que sabemos que é elas rendem boas histórias.

    Para entender este tipo de gancho, imagine que um grande terremoto atingiu o Brasil. Você deve saber que nosso país não costuma sofrer esse tipo de ação da natureza. Mas o terremoto ocorre e centenas de prédios desabam, crateras se abrem pelas ruas e muitas pessoas morrem. Como poderíamos começar a contar essa história? Há três formas de fazer isso.

    A mais comum, seria começar alguns dias antes, apresentar os personagens, o protagonista e sua ligação com este tipo de evento. Depois disso, talvez depois de 10 ou 15 páginas, o terremoto finalmente ocorre.

    A segunda, um pouco mais eficiente, seria começar diretamente no terremoto, mostrando o colapso das construções e o desespero da população. Essa abordagem será mais poderosa quando o assunto é prender a atenção do espectador, porque o coloca diretamente na ação, sem rodeios e sem explicações desnecessárias. Haverá tempo para isso mais tarde, quando o leitor já estiver fisgado pelos personagens e pelo conflito.

    A terceira forma, e a melhor delas, na minha opinião, seria começar imediatamente depois do fim do terremoto. Não falo de dias depois, falo de minutos depois. A terra já tremeu. Os prédios já caíram. Centenas de pessoas já morreram. Mas algumas ainda estão vivas, feridas e assustadas em meio aos escombros. O seu protagonista é uma destas pessoas e ele está lá, sem saber o que ocorreu e como se livrar daquela situação.

    Acredito que você entendeu o valor de contar algumas explicações e começar neste momento. Esta escolha fará com que não uma, mas centenas de perguntas brotem na mente dos seus leitores, assim como na cabeça dos seus personagens. O que aconteceu? Foi um terremoto mesmo? Quem é o protagonista? Como ele sobreviveu? Qual a ligação dele com este evento?

    3. O gancho do “Perigo Iminente”

    Se, por um lado, ver uma grande tragédia se materializando na sua frente pode ser um grande problema, a expectativa de que ela chegue também pode criar uma grande tensão. Começar a história com o anúncio de um grande perigo aguça a curiosidade do leitor, principalmente quando ele entende que aquilo pode mudar os rumos do planeta, de um país, de uma cidade ou até mesmo de uma única pessoa (o protagonista, obviamente).

    ***

    Resumindo toda a história, espero que tenha ficado claro que os ganchos de abertura são alguns dos elementos que mais trabalham em favor da sua história. Se você conseguir dominá-los da forma correta, sem tentar ludibriar o seu leitor não só poderá atrair mais pessoas para apreciar a sua obra, como será capaz de reutilizar essa técnica dos ganchos ao longo da sua história, mantendo os seus leitores de olhos grudados nas suas páginas.

    O MITO DO TALENTO: aprenda o ofício antes de achar que já é profissional

    Como qualquer arte séria, a escrita exige dedicação e conhecimento. Para facilitar o entendimento, vou fazer uma pequena comparação: imagine que você quer construir a casa dos seus sonhos. Então você se pergunta: o que eu preciso para construir uma casa. Um terreno, lajotas, tijolos, cimento… Você sempre morou em uma casa (a não ser que você seja um andarilho ermitão maluco), então você sabe como elas são por dentro e por fora. Então você vai lá, desenha a planta e começa a construir por conta. E no mesmo dia em que ela fica pronta, as paredes caem sobre a sua cabeça.

    Aí (se conseguir sobreviver) você se pergunta: por que será que isso aconteceu?

    Parece uma pergunta óbvia, mas para muitas pessoas não é. Principalmente quando se fala de escrita. Algumas pessoas acham que não há requisitos para escrever. Que basta ter tirado boas notas nas aulas de português e já ter lido um livro na vida que você já tem tudo o que é preciso.

    Pensando de forma rasa, é claro que sabendo ler e escrever, você já tem tudo o que é preciso para se tornar um escritor. Mas há um oceano entre possuir as ferramentas e ser capaz de usá-las. E usá-las com maestria é um passo ainda mais longo que só poderá ser percorrido um bom tempo depois.

    Escrever é uma profissão. Pode começar como um hobby ou um sonho distante, mas acredito que o seu objetivo é fazer com que a escrita se transforme na sua profissão também. Sei que você quer se tornar um escritor ou uma escritora profissional. Então saiba que você PRECISA se preparar. Não existe outra forma.

    Você conhece alguém que simplesmente decidiu ser médico e no outro dia começou a operar? Eu sei que são profissões bem diferentes, mas o exemplo é válido. Se quiser ir para as artes, qualquer músico, do pior ao mais virtuoso, todos tiveram que estudar por um determinado tempo antes de começarem a compor.

    E a diferença entre o tempo de estudo de cada um se torna visível na qualidade das músicas que cada um compõem ou é capaz de executar. Você acha que o MC Gui estudou tanto quanto o Beethoven? Ou que a Anitta estudou tanto quando a Tarja Turunen? Na escrita, a situação é semelhante. Temos exceções? É claro. Mas você acha mesmo que você também será a exceção? Quer arriscar? O problema é seu.

    Aprender te ajuda a chegar primeiro. Você se apoia nos estudos daqueles que tentaram muitas vezes antes de você e acharam um caminho mais acertado. Porque, apesar de tudo o que possam dizer, a escrita é um jogo de tentativa e erro. E se você não sabe o básico para começar, vai errar muito mais vezes antes de finalmente acertar alguma coisa.

    GRANDES MENTIROSOS: a verdade que nunca te contaram sobre os melhores escritores

    Talvez você nunca tenha pensado desta forma, mas você é um grande mentiroso (ou mentirosa). E, se ainda não for, precisa se tornar o quanto antes. Essa é uma parte fundamental da profissão do escritor, uma vez que, para contar uma boa história, ele precisa usar artifícios bem específicos, como tornar real um fato que nunca aconteceu.

    Todo escritor lida com a mentira. Pare um pouco para pensar: nós escrevemos sobre pessoas que não são reais, fazendo coisas que não aconteceram, em lugares que não existem. E fazemos tudo isso como se fosse verdade. Agimos como se esses personagens existissem e pudessem pensar ou sentir.

    Nós sempre aprendemos que mentir é errado, mas, nesse caso, a mentira é aceita. Escritores são mentirosos por profissão. Mas não tem problema, porque fazemos isso, contamos essas mentiras, para comunicar coisas que são verdadeiras. Há um motivo para tudo isso. A mentira dos contadores de história tem propósito maior e é assim desde sempre.

    Usar certas mentiras em uma história inventada é um dos principais caminhos para alcançar uma verdade humana que não poderia ser atingida de outro jeito. É aquilo que aprendemos a chamar de “moral da história”, nos contos infantis.

    E dessa mesma forma que o escritor mente com consciência, o público também é enganado conscientemente. Quando lançamos ao mundo uma história, contamos com uma certa vinda do público. Isso quer dizer que o leitor precisa estar disposto a aceitar as mentiras que você está contando e acreditar nelas como se fossem verdades, mesmo sabendo que elas nunca aconteceram.

    Uma das principais formas de fazer isso é caprichar na verossimilhança. Quanto mais reais os seus personagens parecerem, mais as pessoas acreditarão na sua história.

    Um bom exemplo é a obra de Tolkien. Em O Hobbit e O Senhor dos Anéis, temos um mundo completamente imaginário, habitado por criaturas como hobbits, elfos, orcs, trolls, dragões e muitos outros. Mesmo assim, a obra é crível. Vemos a Terra Média e temos a sensação clara de que ela existe. De que poderíamos viver lá.

    Como Tolkien conseguiu isso? Acrescentando elementos que fazem parte do nosso mundo e que, por isso, são críveis no mundo imaginário. Apesar das coisas mágicas e maravilhosas da Terra Média, há elementos que são do mundo real. O mesmo vale para os personagens. Os elfos, mesmo vivendo por milhares de anos, possuem comportamentos humanos, que fazem com nos identifiquemos com suas atitudes.

    Verossimilhança é diferente de verdade. Você não precisa dizer a verdade sempre que estiver escrevendo uma história. Mas precisa dizer o que quer que seja de forma verossímil. Só assim transmitirá a realidade que todos desejam. Não importa o quão estranho o mundo da sua história seja, mas ele deve sempre parecer real para o seu leitor.

    Agora eu vou te dar cinco dicas para se tornar um grande mentiroso… e um escritor melhor.

    Foque nos sentimentos e nas emoções

    Se o seu personagem precisa lutar com um dragão ou com uma outra criatura que você criou, foque-se em detalhes que criam empatia. Você pode descrever o bater de asas do dragão, mas falar sobre o frio que gela a espinha do personagem ou sobre o medo de ser rasgado pelos dentes da fera pode ser muito mais eficiente. Todos sentem medo nas mais diversas situações. O medo nos une e você deve usar esse e outros sentimentos para tornar uma fantasia real.

    Abuse dos detalhes sensoriais

    Se os seus personagens estão passando por uma caverna inventada, pode ser que você não consiga transmitir detalhes o suficiente para tornar o local crível. E, se colocar detalhes demais, pode acabar deixando a leitura maçante ou soar como se estivesse enchendo linguiça. Por isso, uma das melhores formas de criar verossimilhança é utilizar detalhes sensoriais, como cheiros, barulhos e sensações. Fale sobre o cheiro que os personagens sentem dentro da caverna, sobre o barulho da água caindo ao redor, sobre a frieza do toque nas paredes. Isso colocará o seu leitor dentro da cena, junto com os personagens.

    Use elementos familiares ao leitor

    Você, enquanto narrador, pode fazer comparações e analogias para que o leitor entenda o que está acontecendo. Ao mesmo tempo, não precisa criar absolutamente tudo em seu universo imaginário. Usando Tolkien como exemplo novamente, temos boas doses de realidade na fantasia. Os nomes dos meses da Terra Média são os mesmos dos nossos, por mais que isso soe impossível, já que nossos meses estão ligados a acontecimentos verdadeiros (agosto vem do imperador romano Augustus). Mas Tolkien sabia que criar novos nomes para os meses só deixaria o mundo mais confuso.

    Cuidado com os erros básicos

    Se você está escrevendo sobre um passei no parlamento de Londres, precisa estar atento aos detalhes reais do prédio. Precisa trazer elementos comuns para leitores que já estiveram naquele local. Ao mesmo tempo, se você está escrevendo sobre locais que não existem, precisar criar elementos que tragam familiaridade, mas que estejam de acordo com as regras que você mesmo definiu para o seu mundo. Se você está escrevendo sobre um povo que ainda não desenvolveu a engenharia, não pode criar um grande construção com centenas de metros de altura… A menos que essa construção misteriosa seja o mistério que guia a trama da sua história.

    A verdade é o tempero da boa mentira

    Todo escritor usa a mentira como matéria-prima para suas histórias. Mas isso é o meio para chegar em um fim importante, que traga uma mensagem poderosa, seja ela qual for. Por isso, a verdade precisa ser inserida em pequenas doses, costurando cada um dos elementos. A verdade deve ser o tempero que dá cor e sabor para suas narrativas e que torna tudo crível, até mesmo o mais fantástico dos elementos.

    ***

    Uma boa forma de aprender com escritores que misturaram bem mentira e verdade é ler livros que abordam a temática “e se”. É o caso de O Homem do Castelo Alto, de Philip K. Dick, que mostra um mundo onde os nazistas venceram a II Guerra Mundial. Há vários elementos reais misturados com outros que são fantasiosos, decorrentes da vitória de Hitler. A Graphic Novel Watchmen, de Alan Moore, também pode ser uma ótima fonte de pesquisa, por mostrar o mundo real habitado por heróis e super-heróis e até mesmo uma vitória dos Estados Unidos sobre o Vietnã.

    Então, prepare suas mentiras e comece a escrever. O mundo precisa de você (e isso, definitivamente, não é mentira).


    O que você achou destas dicas? Gostou do texto? Deixe seu comentário e não deixe de assinar o meu canal no YouTube, porque lá tem vídeos todas as semanas, falando sobre os temas mais interessantes sobre literatura e escrita criativa.

    ESCRITA CRIATIVA: a representatividade na literatura e como estamos fazendo isso errado

    Eu sei que este artigo pode soar polêmico e eu corro o risco de ser odiado por alguns fanáticos, mas acho que vale a pena falar sobre o meu ponto de vista. Acredito que só existe crescimento pessoal quando somos confrontados com argumentos novos e desafiadores. Afinal, se todos concordam, não existe debate.

    Foi por isso que decidi falar.

    Uma das buscas mais incessantes dos escritores, principalmente nestes tempos em que vivemos, é pela representatividade. Principalmente porque muitos autores tidos como clássicos, hoje são acusados de machismo, racismo e misoginia, uma vez que muitas de suas histórias são centradas em ideias ultrapassadas e totalmente equivocadas. Eu acho essa análise válida e extremamente justa.

    Pense em Monteiro Lobato com sua Tia Nastácia. Embora refletisse a época, a personagem é totalmente estereotipada carrega trejeitos extremamente racistas, presentes em muitos outros momentos da obra de Lobato. O mesmo problema está presente nos textos de H.P. Lovecraft.

    O racismo existe. Não há como negar. E nós precisamos trabalhar todos os dias para que ele seja abolido da literatura e, é claro, da vida como um todo. E algumas pessoas tem se empenhado nessa missão, mas… De uma forma completamente egoísta e ineficaz.

    Representatividade: falsidade vs verdade

    Esta luta por mudança e abolição das ideias preconceituosas, embora justa, acabou criando um monstro que se alimenta dos nossos esforços em vencê-lo. E este monstro, na situação atual, não pode ser derrotado.

    Já recebi e-mails de leitores que diziam que eu deveria escrever mais sobre negros, asiáticos, mulheres e árabes. Já pensei muito sobre isso, mas sempre me deparo com um questionamento simples, mas com o poder de mudar tudo: eu não pertenço a nenhum destes grupos.

    Esta não é a minha vida.

    Isso quer dizer que eu não devo ter personagens assim em meus livros? É óbvio que não. Mas minhas histórias nunca serão centradas nestes temas, porque eles não me representam. E meus livros são sobre mim. Como os seus livros são sobre você.

    Eu posso escrever um livro sobre uma mulher negra. Mas nunca serei capaz de entender como uma mulher negra se sente e como ela é vista pela sociedade. Só terei a visão estereotipada dessa personagem, por mais que eu entreviste centenas de mulheres nesta situação. E eu não seria representativo nem com as mulheres negras e muito menos comigo.

    E eu escrevo porque quero me ver representado em algum lugar. E as pessoas leem os meus textos e livros porque também querem.

    Para tentar evitar problemas, parecei de citar raças em meus textos, a menos que seja extremamente importante para a trama. Assim, meus leitores podem imaginar os personagens como bem entenderem. Negros, brancos, amarelos, vermelhos… Não importa. São pessoas.

    Aqui abrimos um parêntese para as teorias que afirmam que a etnia de um indivíduo afeta a forma como ele pensa e se comporta. Eu concordo com essa afirmação, mas não vou entrar nessa discussão neste momento, ok? Falamos sobre isso em breve. 😉

    Como solucionar este problema?

    Pantera Negra é um bom exemplo. Foi criado pelo Stan Lee, um homem branco, americano e rico. Mas a história trata da cultura africana e da luta do povo negro. E quando foi que o personagem atingiu seu ápice? Quando foi reestruturado por escritores negros e africanos com essa bagagem.

    E é justamente por isso que o filme é genial. Houve uma representatividade verdadeira. Não importa quem criou o personagem. O importante é quem conseguiu dar representatividade para ele.

    Minhas histórias estão cheias de personagens que são pessoas como eu. Essa é a mais pura representatividade. A minha, pelo menos, mas é óbvio que ela não é suficiente. Precisamos de mais pessoas pessoas escrevendo, de mais pessoas com oportunidade de contar suas histórias. Isso é a verdadeira representatividade. 

    Isso não quer dizer que brancos não devem escrever sobre negros e vice versa. Mas seria ótimo ter mais autores negros escrevendo sobre suas vivências, suas fantasias, seus medos e seus desejos.

    Eu também queria saber como os asiáticos veem o mundo além do kung fu e do karatê. Mas se tiver kung fu e do karatê vai ser ótimo também.

    Eu também queria ver mais mulheres escrevendo histórias sobre mulheres , sobre homens e sobre o que mais elas quiserem.

    Parece utópico? Não é. Isso parte de cada um. Não precisamos de grandes editoras para nossos livros ou produtoras hollywoodianas para nossos filmes. A internet deixou as coisas mais justas e precisamos aproveitar. As condições já foram criadas. Está na hora de desfrutar de cada uma delas.

    E eu acho que é por isso que eu gosto tanto de citar um trecho de uma música da Legião Urbana chamada Marcianos invadem a Terra. Saca só:

    Ora, se você quiser se divertir, invente suas próprias canções.

    Existe representatividade maior do que você poder escrever suas próprias histórias? Sinceramente, eu não conheço.

    Você saber o que é uma “Cópia Avançada da Leitura”?

    Cópia Avançada da Leitura é um termo vem do inglês Advanced Reader’s Copy, ou ARC, como eles preferem chamar. Confesso que procurei bastante para ver se encontrava um correspondente em português para o termo, mas não encontrei… Então resolvi traduzir e trazer para vocês a melhor explicação possível.

    Vamos chamar a Cópia Avançada da Leitura de CAL a partir de agora. Fica mais fácil e prático. E o significado também é bem fácil. CAL’s são cópias do seu livro que são enviadas a certas pessoas pouco antes do lançamento oficial com um objetivo bem específico: gerar críticas.

    Um CAL é uma versão praticamente finalizada do livro, que é distribuída apenas para o que pode-se chamar de “leitores avançados”. Esse leitores avançados, na maior parte dos casos, são revisores de livros, editores, profissionais editoriais, booktubers, influenciadores digitais ou blogueiros que escrevem sobre livros. E o motivo é bem simples: eles podem ler o livro antes da data de publicação para que suas resenhas possam coincidir com a estréia do livro.

    O CAL não é a cópia final do livro porque, na maior parte das vezes, ainda não possui a revisão final ou não tem a capa original definida e coisas do tipo. Justamente por isso, esses detalhes deverão ser ignorados pelos leitores avançados. Então, lembre-se de deixar bem claro que se trata de uma cópia de avaliação e que o texto ainda ganhará novas revisões.

    Mas lembre-se de que o texto precisa estar completo. O CAL não é apenas uma degustação do livro, criada para deixar o leitor querendo saber mais.

    Como produzir um CAL decente para os leitores

    Algumas grandes editoras produzem versões quase completas do livro para enviar para os leitores avançadas. Estas versões são produzidas em gráficas e custam uma boa soma de dinheiro. Como escritor independente, talvez você não tenha dinheiro o suficiente para isso, mas existem soluções práticas que podem ser bem valiosas.

    É importante lembrar que é importante não enviar versões digitais do seu livro. Além de aumentar a possibilidade de que o seu livro vaze e seja distribuído ilegalmente na internet antes do lançamento, os leitores podem não gostar de ler ebooks ou nem mesmo dispor de ferramentas necessárias para a leitura. Uma boa solução para este problema é imprimir versões em tamanho A4 e encadernar por algum dos métodos disponíveis, como espiral ou capa dura, como em trabalhos de conclusão de cursos de faculdade.

    Isso vai diminuir os custos e vai gerar um trabalho visualmente mais apresentável para o seu leitor, facilitando a leitura. Mas lembre-se de anexar uma carta explicativa ao envio, explicando que trata-se de uma Cópia Avançada da Leitura e que a versão final do livro será diferente e seguirá o modelo tradicional de impressão, em uma gráfica.

    Explique o que você espera com aquele envio: uma resenha sincera sobre o seu livro, para ser publicada no momento do lançamento. Não peça que o leitor escreva uma resenha positiva, por que isso pode ser muito ofensivo. Ao contrário disso, escolha apenas leitores que podem se identificar com o gênero que você escreve ou que já manifestaram interesse pelas suas obras. E reitere o motivo da escolha daquela pessoa como leitora avançada e faça com que ela se sinta especial por isso.

    Como misturar clichês com ideias originais

    As frases que o escritor mais ouve ao longo de sua vida são: fuja dos clichês. Pense diferente. Apresente uma ideia que ninguém nunca viu. Seja original.

    Isso é lindo até que observamos os principais bestsellers. Ou os maiores lançamentos do cinema. Em sua grande maioria, os maiores sucessos são sempre coisas com as quais já estamos bem habituados. Histórias que já conhecemos em contextos nos quais já estamos inseridos. Então, porque ser original?

    Quando Harry Potter se tornou o fenômeno que ele é, muitos escritores foram na onda. E muitos se deram bem, como Rick Riordan e sua série Percy Jackson e depois com a menos conhecida Magnus Chase. Mas o próprio Harry Potter não era uma ideia 100% original, já que bruxas e feitiços já faziam parte do nosso imaginário desde sempre.

    O mesmo se dá com O Senhor dos Anéis. A obra prima de Tolkien inspirou milhares de outros escritores desde seu lançamento, dentre eles, o mestre C.S. Lewis, com As Crônicas de Narnia, e o jovem Christopher Paolini com a saga de Eragon. Mas, novamente, até mesmo os livros de Tolkien estavam cheios de releituras de histórias antigas, contadas ao longo dos séculos na Inglaterra.

    Então, qual é o caminho certo? O clichê ou a novidade. Se você analisar os lançamentos e a onda de remakes em Hollywood, vai notar que as pessoas preferem aquilo que já conhecem. Poucas pessoas querem uma história onde o herói morre no final. Onde o mocinho não fica com a garota. Nosso cérebro gosta do que é mais confortável, do que demanda menos atenção. A franquia Star Wars e seus trilhões de filmes, livros, séries, jogos e sei lá mais o que é a prova viva disso. 

    A grande questão, então, não é apenas buscar uma ideia totalmente nova. Mas misturar coisas novas com coisas que as pessoas já conhecem. Pegue a Jornada do Herói, por exemplo. Por que você acha que ela é tão utilizada? Porque ela dá certo. Simples assim. As pessoas gostam desse formato e estão acostumados com ele desde que o mundo é mundo. Desde que as histórias começaram a ser contadas.

    A novidade vem quando você pega essa fórmula e a subverte, não quando você simplesmente a joga no lixo. Existe um oceano entre essas duas possibilidades. Harry Potter é genial porque soube misturar o clichê do jovem órfão deslocado com um mundo mágico onde ele já era um herói sem nem mesmo saber. E por tê-lo feito crescer junto com seus leitores, criando empatia. E também pela diversidade enorme de personagens.

    O Senhor dos Anéis é genial porque apresentou um mundo de fantasia totalmente crível e palpável, que foge do clichê ao colocar a criatura mais improvável como o herói. O clichê existe. O cavaleiro poderoso e valente está lá, na figura do Aragorn. Mas quem carrega o Um Anel é o Frodo, que é frágil e tem medo. O destino está nas mãos dele e Aragorn se torna apenas um mero coadjuvante na trama.

    Vamos exercitar nossa imaginação: quando a teoria dos buracos de minhoca surgiu, ela foi tida como algo extraordinário. Ainda é até hoje, é claro, mesmo que alguns cientistas afirmem categoricamente que ela é possível. Mas o fato é que, na ficção, buracos de minhoca são coisas extremamente clichês. É só olhar a quantidade de livros, filmes e jogos que já abordaram isso.

    Mas existem muitas formas de alterar isso. Imagine que, ao invés de simplesmente mandar as pessoas de um lugar para o outro, o buraco de minhoca mandasse uma cópia desta pessoa para um outro lugar e a original para outro. Isso cria uma situação nova e totalmente inexplorada. Principalmente se a cópia não souber que é uma cópia.

    Entendeu o meu ponto?

    Quando você se sentar para escrever, precisa ter em mente que fará escolhas. Precisa decidir o que será totalmente novo, criado por você, e o que será clichê. Os clichês são necessários, mas devem ser usados com sabedoria.

    Isaac Newton, aquele cientista que você odiava no colégio, mas que definiu os rumos da física moderna, disse certa vez: 

    Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes.

    Use os clichês desta maneira. Eles são os guias que te ajudam a enxergar mais além. Ideias que deram certo e que, provavelmente, continuarão dando certo para sempre.

    Mas não seja um idiota. Nunca escreva histórias 100% baseadas em clichês, porque elas também não darão certo. A sua função como escritor é criar um jeito de utilizá-los misturando com as suas ideias originais. É assim que as grandes histórias nascem.

    Segundo os escritores, o mercado literário brasileiro está em transformação

    Um mercado em transformação, com novos consumidores potenciais e a carência de estratégias para a formação de novos leitores é a descrição do mercado literário brasileiro, feita por escritores. O mercado reúne profissionais apaixonados pelo que fazem.

    “Nós todos que trabalhamos com escrita, com texto, com formas de abstração, somos todos sonhadores”, diz a autora e editora na Página Editora, de Belo Horizonte (MG), Cláudia Rezende. “Acredito muito na literatura, na força de formar um leitor fluente, na diferença que isso faz na vida das pessoas”, acrescenta.

    Cláudia publicou o primeiro livro este ano, Poli Escolhe, que tem como tema o processo de escolha das crianças. O lançamento vem junto com um trabalho já conhecido de autores, de divulgação, de lançamento da obra, de distribuição e vendas.

    “Há crise no mercado, temos editoras fechando, livrarias em dificuldade, mas, por outro lado, temos também uma facilidade maior de publicar. Na editora recebemos muita procura por publicação”, diz. Segundo ela, editoras pequenas, como a Página são as que “estão realizando sonhos. Antes, dependia-se de grandes editoras, agora não”, afirma.

    Cláudia destaca, no entanto, que a concorrência editorial é alta, sobretudo com livros impressos em outros países, de baixo custo. “A gente nem visa a determinados públicos porque não há como concorrer com dois livros a R$ 10”, diz. A estratégia tem sido, então, segundo ela, recorrer à maior qualidade, à busca por obras que reflitam as ideias de cada autor.

    Editais e vaquinhas

    Além das editoras, editais públicos e vaquinhas aparecem como alternativa, sobretudo para novos autores. A escritora Sílvia Amélia de Araújo, de Cidade de Goiás (GO), recorreu às duas estratégias. Ela já tem livros publicados e outros ainda na gaveta, quase prontos para serem lançados.

    Fachada da Biblioteca Nacional, na Cinelândia, Rio de Janeiro (foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

    Foi com recursos do edital de Literatura do Fundo de Arte e Cultura do Estado de Goiás que Sílvia publicou o livro No meio do caminho. A obra, vendida a R$ 15, reúne histórias de pessoas que compartilharam com ela viagens em transportes públicos. De quem sentava ao lado e falava da vida. “Fiz o livro voltado para pessoas de baixa escolaridade, pessoas adultas que se alfabetizaram recentemente ou que têm pouco estudo, que não vão conseguir ler um livro denso de letra pequena, mas que também não se interessam por livros infantis”, conta.

    O edital, segundo ela, tornou a obra mais acessível. “O brasileiros têm um hábito de leitura ainda muito baixo, mas valor da leitura é alto no país. As pessoas acham importante ler, acham valioso e esperam que seus filhos sejam leitores. Acho que existe campo para trabalhar e, nesse sentido, os editais são importantes porque permitem esse tipo de coisa que eu propus, distribuir os livros ou vender muito baratinho”, diz.

    A estimativa é que 44% dos brasileiros sejam não leitores, o que significa que não leram nenhum livro nos últimos três meses, de acordo com a última pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro.

    A autora conseguiu ainda, por meio de uma vaquinha online, financiamento para lançar mais dois livros: Álbum de histórias e Guia Casar Bonito. Como está grávida, a contagem para o lançamento é também pelo tempo do bebê. Ela pretende lançar um livro antes do nascimento, previsto para fevereiro, e outro depois.

    Apesar dos projetos em andamento, Sílvia diz: “é difícil viver só da literatura, só da venda de livros, é raríssimo encontrar alguém que viva só disso. Mas, é possível construir uma carreira em torno disso. Eu dou oficinas de escrita, é algo que me dá uma renda e tem relação com o que eu quero fazer”.

    Cenário de transformações

    Para a diretora executiva da Câmara Brasileira do Livro (CBL), Fernanda Garcia, o livro no Brasil está passando por transformações. O Painel do Varejo de Livros no Brasil, pesquisa da Nielsen Brasil e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), mostra leve melhora de 0,96% das vendas de livros entre setembro e outubro de 2019, em comparação com o mesmo período do ano passado.

    Em 2018 foram vendidos 2,9 milhões de livros e, em 2019, 3 milhões entre o início de setembro e o início de outubro de cada ano. Em valores, o aumento foi de 3,74%, passando de R$ 112,7 milhões para R$ 116,9 milhões. “[A pesquisa] este ano mostrou, pela primeira vez, um crescimento, pequeno, mas a curva para cima. A gente está feliz com isso”, diz Fernanda. “Embora não seja uma recuperação, demonstra um cenário, uma curva de crescimento”.

    Apesar do crescimento no mês, no acumulado do ano, de janeiro a outubro, 2019 ainda está abaixo de 2018. O volume de livros vendidos acumula até agora queda de 10,26% e o valor das vendas, queda de 9,53%.

    Fernanda cita várias mudanças no consumo de obras literárias, como o surgimento de diversos clubes de leitura, o fortalecimento dos audiolivros e livros digitais, o avanço de livrarias independentes e de nicho, ao mesmo tempo que o enfraquecimento de grandes redes. “Paralelamente a isso, há uma geração que vem fazendo livro de forma diferente, mais conectada a um tipo específico de público”, diz.

    A diretora defende que para que o hábito da leitura se perpetue e para que o mercado de livros se sustente, é preciso um trabalho, principalmente do Poder Público, na formação de leitores. Para isso, a CBL defende a regulamentação da Política Nacional de Leitura e Escrita (PNLE), sancionada em lei no ano passado.

    Entre outros pontos, a política visa à universalização do direito ao acesso ao livro, à leitura, à escrita, à literatura e às bibliotecas e, para isso, prevê a formação de pessoal e o fortalecimento dos acervos. “A gente acredita muito no livro como elemento transformador da sociedade, da educação, do país”, defende.

    Dia Nacional do Livro

    O Dia Nacional do Livro foi instituído em homenagem à fundação da Biblioteca Nacional – na época Real Biblioteca -, instalada oficialmente no Rio de Janeiro em 29 de outubro de 1810.

    Como ter mais ideias para personagens, cenas, capítulos, histórias, contos e romances?

    Muitas pessoas me mandam e-mails perguntando como ter ideias. Como pegar essas sugestões divinas que vagam pelo ar e condensá-las em histórias que as pessoas realmente amarão ler. Eu até queria, mas não tenho uma resposta exata. E preciso te alertar que ninguém tem, na verdade. 

    Mas posso te dar algumas dicas que vão ser bem úteis. Por isso, confira seis dicas incríveis para nunca mais ficar sem ideias:

    Anote as idéias quando elas surgirem

    Se você não fizer isso, elas desaparecerão para sempre. Ande sempre com um caderno, uma caderneta ou algo parecido. Se preferir, utilize algum app do seu celular, mas anote tudo. Nunca deixe para anotar quando chegar em casa, porque a ideia vai desaparecer e você vai ficar muito frustrado. Digo por experiência própria.

    Tire um tempo do seu dia para ter ideias

    Encoraje a sua mente a pensar, porque é assim que os grandes escritores fazem. Se quiser ser escritor, lembre-se de que você não pode mais se dar ao luxo de escrever só quando estiver inspirado. Escrever é uma profissão, que exige prática, trabalho duro e disciplina. Faça brainstorms todos os dias e anote tudo que te vier à mente para consultar depois.

    Misture uma coisa corriqueira com uma noção extraordinária

    Esse tipo de mistura pode gerar histórias simplesmente incríveis. Foi o que aconteceu com Toy Story, Divertidamente, Harry Potter, Pokémon e muitos outros clássicos da cultura pop. Nós falaremos mais sobre isso em breve.

    Organize suas ideias em uma estrutura de tópicos

    Esse tipo de organização pode ser muito útil para deixar as ideias mais claras na sua mente. Não tente criar tudo quando a ideia surgir, mas anote as principais noções da ideia em tópicos. O Trello me ajuda muito nisso, mas você pode usar o software que quiser ou até mesmo um caderno, se achar mais fácil.

    Tome cuidado para não tentar organizar demais

    Esse é o erro que mais acontece com que escreve fantasia ou outros gêneros que envolvem a criação de mundos e universos inteiros Mas é preciso entender que, quando você planeja demais, parece que está trabalhando, mas está só procrastinando. Então, tenha em mente que, uma hora, você precisa começar a escrever. O ideal é manter o foco nos personagens e nos conflitos da trama e não tentar construir um universo inteiro de uma só vez. Se fizer isso, você nunca terminará seu livro. Deixe para construir a enciclopédia pessoal do seu cenário quando não estiver trabalhando em nenhuma obra específica.

    Ache um meio termo entre improvisar e planejar

    O extremo dos dois é terrível, porque não te leva a lugar nenhum. Mas um uso moderado dos dois elementos é o que cria grandes obras. Sabe quando a história flui e você escreve por cinco ou seis horas sem parar e sem nem perceber? É exatamente disso que eu estou falando.